A música de um bandolim trouxe a poeira do tempo em que os
sons misturavam-se a lembranças abandonadas. Meninos corriam contra o vento, espalhavam
seus gritos pela chuva. Os olhos do poeta cego procuravam ouvir e compreender o
que pudesse existir de beleza em volta. E de poesia, sim. Entender o que faz uma criança incorporar na
alma o fascínio da chuva e o que há de mágico numa ventania.
Mulheres de negro sentavam-se às calçadas e olhavam apenas o
passar do mundo. Pouco havia de sons além da música do bandolim que era tocado
por um velho de cabeça baixa, pernas cruzadas e ele também perdido nas fímbrias
do seu próprio tempo. As nuvens tangidas pelo vento traziam também o coro das
tempestades que tornavam a paisagem vazia como a solidão dos mortos.
Nenhum de nós conseguia entender além daquela música mas
sabíamos que algo existiria acima de todas as coisas, mesmo dos sons das notas espalhadas
pelo espaço do tempo incompreensível. A distância e as emoções despertadas faziam
pensar em algo que estava além, muito além do coro das crianças que corriam
contra o vento desafiando o som, a beleza de um bandolim sob as nuvens aziagas do
final de um dia.
Um comentário:
Texto realmente maravilhoso,como tudo que você faz!
Celso, enviei e-mail para você no gemail, recebeu? Grande abraço
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