Um escritor expõe suas entranhas. Procura iludir seus
leitores, assume uma postura distante, às vezes cínica, como se não fosse dele
o sofrimento, a angústia que desponta na ficção que produz. Flaubert dizia que
Madame Bovary era ele próprio. Esta divisão da própria personalidade em tantas
vivencias é o que faz de um autor o escravo dos seus próprios fantasmas.
Dos poetas, então, as almas se dilaceram, às vezes. Poe,
alcoólatra, viveu os últimos anos a ganhar um pouco de dinheiro para beber
recitando O Corvo, seu poema mais célebre, nos botequins de Baltimore. Ginsberg
emitiu um lancinante Uivo de angústia existencial, Alvares de Azevedo,
tuberculoso, morreu com 21 anos. Maiakovski se matou, assim como seu amigo
Essenine.
Doka, que era um bêbado, insistia que toda esta sina tinha
raízes no mito da felicidade dos homens. A insistência em ser feliz,
contrariando o destino da vida, conduzia à decepção e à própria infelicidade.
Ninguém nasceu para ser feliz, ele dizia, pois se contentava em retirar da vida
apenas a vida, ela só.
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