sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Calor



A temperatura alta do verão carioca, a umidade do ar e o sol forte desses dias me fazem lembrar um texto de Borges que fala da humilhação do calor. Acho que é isso: o calor humilha as pessoas, a roupa se cola ao corpo e o suor desce pelo rosto. Você se sente como se carregasse bolas de ferro amarradas aos tornozelos. Todos reclamam do calor, uma mulher se abana de maneira nervosa e um camelô vende leques na calçada.

Uma amiga que nasceu e vive na Europa me disse um dia que a lembrança mais forte dos dias que passou no Rio, durante um mês de fevereiro, era a de uma gota de suor que lhe escorria, permanentemente, espinha abaixo. No calor europeu do mês de junho, não há suor. A baixa umidade do ar provoca um calor seco e sufocante.

O Rio é uma cidade que vive o verão. É quando ela mostra sua face verdadeira, regurgita, festeja e, literalmente, põe o bloco na rua em desfiles carnavalescos que começam desde janeiro. De abril a setembro, a cidade hiberna, esperando estes meses quentes de praias cheias, asfalto amolecido, bares com todas as mesas ocupadas, mulheres seminuas, samba e calor humilhante.

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