O homem, dizia Doka, só se revela diante da derrota. Os
vencedores deixam-se dominar pelo delírio e sentem-se como escolhidos pelas
divindades. Afastam-se de si mesmos, ao contrário daqueles que conhecem a
realidade e seus caminhos sem retorno. Os que se sentem vencedores esquecem-se
de que a vida é uma guerra sem fim. Há momentos em que assume aparência de
vitória, em outros conduz ao espelho que reflete apenas os conflitos e as esperanças
perdidas.
Dizia ele, Doka, que às vezes levantava-se com o sentimento
otimista dos que ganharam a luta contra os desafios da vida. Mas em outros
momentos não conseguia libertar-se do sentimento trágico que afinal acompanha todos
os viventes. O sentimento de desesperança que antecede o mergulho dos afogados.
E citava um texto de Hemingway que ele próprio traduzira:
“Aos que trazem muita coragem a este mundo, o mundo quebra a
cada um deles e alguns ficam mais fortes nos lugares quebrados. Mas aos que não
se deixam quebrar, o mundo os mata. Mata os muito bons, os muito meigos, os muito
bravos – indiferentemente. Se você não é um deles, fique certo de que o mundo
também vai lhe matar, mas sem nenhuma pressa especial.”
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