O homem é velho e pinta os cabelos que usa compridos e
penteados com cuidado para esconder a calvície. Veste-se com roupas já bem
usadas e mostra alguma vaidade também na combinação das tonalidades, na camisa
cuidadosamente enfiada nas calças e nos sapatos de duas cores. Perguntou-me
onde ficava a agência da Caixa mais próxima e seguiu na direção indicada.
Voltou algum tempo depois e sentou-se na mesa do lado. Disse
que havia morado vinte anos no prédio em frente e que estudou na Sorbonne.
Depois me deu as costas e continuou bebendo cerveja, olhando distraidamente o prédio
onde disse que havia morado. Quando fui embora ele continuava lá, com a cerveja
pela metade. Não pareceu ter percebido o meu gesto de despedida.
Tem aparecido ali todos os dias, veste a mesma roupa com os
sapatos de duas cores. Bebe pouco, uma cerveja só, esperando a hora do almoço.
Seu olhar se fixa no prédio em frente. Não responde ao meu cumprimento, é como
se não estivesse sentado no botequim mas na sala ou no quarto de um apartamento
qualquer do prédio onde ele disse que havia morado por vinte anos.
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