Eu vi quando o país entrou no coração das trevas e lá ficou
por mais de vinte anos. E vi o movimento hippie imaginar que a paz e o amor
poderiam reger o mundo, para depois concluir que o sonho tinha acabado. Vi
amigos que caíram, foram torturados ou morreram jovens, muito jovens. E o mundo
continuou o mesmo, com suas contradições caminhando para a violência sem solução.
Uma geração sem legado num tempo em que a tecnologia
diminuiu o tamanho do mundo e o transformou em mercado. Os ventos alísios
trouxeram esperanças mas a escuridão do pensamento os bloqueou nascituros.
Falou-se em revoluções afogadas e os sonhos que imaginavam a paz foram
transformados em pesadelos sombrios.
O homem sonha enquanto vivo. Seus fracassos se dissipam sob
a chuva cinzenta das ventanias do inverno. Há sempre o desejo de levantar-se
depois das quedas para continuar a marcha na direção de um destino construído
pelo acaso, pela direção dos ventos.
Um comentário:
Caro Celso, Lendo seu post, me lembrei da música "Como Nossos Pais" de Belchior, que referenda e complementa este seu brilhante texto, "Já faz tempo eu vi você na rua, cabelo ao vento, gente jovem reunida / Na parede da memória essa lembrança é o quadro que dói mais / Hoje eu sei que quem me deu a ideia de uma nova consciência e juventude / Está em casa guardado por Deus contando vil metal / Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo que fizemos / Nós ainda somos os mesmos e vivemos Como nossos pais!"...
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