As lembranças mais distantes repousam enterradas no
inconsciente, assim como os traços de antigas civilizações jazem sob camadas de
terra e de escombros. Há surpresas nas escavações quando aparecem os restos de
povos que ali habitaram e pouco deixaram da sua passagem e de sua memória. O
que foi riqueza e pompa em certa época deixou apenas poeira, utensílios
quebrados, esqueletos, sinais dispersos.
As civilizações extintas deixam pouco entrever da vida
diária das pessoas que morreram junto com o seu tempo. As angústias do homem
que viveu há cinco mil anos pouco se distanciam daquelas do século em que
vivemos: sobrevivência, surpresas do mundo, descobertas, emoções dispersas, o
sentimento amoroso, a desesperada procura de Deus.
Debaixo das camadas das eras repousam os amantes e os
guerreiros, os pensadores, o generoso e o bom. Pouco ficou da sua passagem e
muitas vezes desapareceu também a civilização em que viveram, sua cidade, sua
casa e as circunstâncias da sua vida. É curioso como repetimos hoje o que eles
foram e compartilhamos o seu destino, estes fantasmas esquecidos que habitam
nossos sonhos e povoam as alucinações.
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