Na manhã cinzenta, o velho pensa e mergulha
nos pensamentos porque pensar é viver
dimensões insondáveis, sonhos nunca imaginados e é também o sofrimento dos
velhos. Uma ave estranha o acompanha e o murmurar das árvores denuncia a
ventania e a chuva que se aproxima. Faz frio como prenúncio do inverno que virá
cobrir tudo: reflexões e folhas soltas no tempo insólito das vivências tardias.
Acabaram-se os espantos e apenas o grasnar daquelas
aves sugere a lembrança de algo que se perdeu e que a memória é incapaz de
alcançar. Que assim seja, pois há um poema que se dissolveu em torpor e nunca
mais há de reviver, só os escritos fúteis, as falas inúteis e um tipo de beleza
inalcançável hoje como sempre foi. Sombras trágicas, dispersas, destituídas de rosto,
impossíveis de olhar.
Voltam os redemoinhos, sentimentos soltos
mergulhados em poeira que os olhares antigos levantam e que haverá de cobrir
tudo – as lembranças, os sentimentos confusos, as emoções que se perderam e que
nem o tempo haverá de resgatar. Um pássaro negro a repetir nunca mais.
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