quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Wilson


Wilson está comigo numa memória remota, do tempo em que eu era criança. Ele era filho de Ana, que era lavadeira e também mãe de Gilvan, que morreu tuberculoso. Wilson era muito forte, bem-humorado e valente. Um dia viajou para trabalhar numa fazenda em Mato Grosso e deixou de mandar notícias.

Ana pediu dinheiro emprestado a meu pai e viajou para procura-lo. Voltou sem saber de nada. “Era a imagem da tristeza e da decepção”, disse dela a minha mãe. Quando Wilson reapareceu estava muito magro e muito doente. Havia fugido da fazenda onde trabalhava, ficou escondido no mato, foi ajudado pelos índios, contou muito sofrimento mas conseguiu voltar.

Lembrei-me de Wilson, de quando ele era forte, bem humorado e valente. E também de quando voltou e estava magro e doente. Estas notícias de jornal sobre a flexibilização da lei contra o trabalho escravo me despertaram esta memória de Wilson.



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