Wilson está comigo numa memória remota, do tempo em que eu
era criança. Ele era filho de Ana, que era lavadeira e também mãe de Gilvan,
que morreu tuberculoso. Wilson era muito forte, bem-humorado e valente. Um dia
viajou para trabalhar numa fazenda em Mato Grosso e deixou de mandar notícias.
Ana pediu dinheiro emprestado a meu pai e viajou para
procura-lo. Voltou sem saber de nada. “Era a imagem da tristeza e da decepção”,
disse dela a minha mãe. Quando Wilson reapareceu estava muito magro e muito doente.
Havia fugido da fazenda onde trabalhava, ficou escondido no mato, foi ajudado
pelos índios, contou muito sofrimento mas conseguiu voltar.
Lembrei-me de Wilson, de quando ele era forte, bem humorado
e valente. E também de quando voltou e estava magro e doente. Estas notícias de
jornal sobre a flexibilização da lei contra o trabalho escravo me despertaram
esta memória de Wilson.
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