As trevas são habitação do medo, às vezes se constroem no
íntimo dos homens e obscurecem a visão das coisas do mundo. Existem porque são antípodas
da luz, de paisagens primaveris, do odor da chuva sobre um campo ressecado,
inútil. No vasto azul escondem-se nuvens macias, brancas, onde não existem
temor ou ameaças sombrias.
Existem, sim, paragens desconhecidas onde talvez naveguem
sentimentos, crenças na luminosidade da vida ao lado de enleios, relvas
umedecidas por finos orvalhos noturnos. São estas as visões que desassombraram
os videntes que fugiram do inferno em busca da poesia.
A noite mais uma vez se aproxima das cores do crepúsculo, as
águas do rio cor de chumbo passam com pressa rumo ao mar onde irão confundir-se
com tonalidades menos escuras. Não haverá que temer nem trevas nem as sombras invasoras
do poente. Vagarosamente, o silêncio começa a dar sentido às coisas inúteis que
são, elas sim, a imitação exata dos segredos que cercam tudo, até a vida, ela
mesma.
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