A moça na mesa ao lado comia muito e era muito gorda. E
triste. Olhava para diante mas não parecia perceber os que passavam pela
calçada em frente. Seu olhar perdido não se afastava de um ponto imaginário e
ela apenas pensava, imersa, enquanto comia. E bebia refrigerante. Era também
uma moça bonita, de olhos parados e pensamentos sombrios.
Este fim de outono tem trazido chuvas muito fortes e
repentinas que inundam as ruas e afastam o povo que costuma encher as tardes de
Copacabana. Dezembro tem surpreendido com frias temperaturas de um inverno
tardio. O bairro volta a se encolher, como se ainda estivesse à espera dos
últimos e movimentados meses do ano.
Os automóveis passavam aspergindo água nas calçadas vazias.
Passageiros saltavam dos ônibus no ponto em frente e corriam a fugir da chuva,
procuravam abrigo nas marquises, alguns maldiziam o tempo ruim. O fim de tarde
criava em torno de si uma paisagem soturna. No botequim quase vazio a moça
gorda e triste comia e olhava para alguma coisa que só ela avistava, perdida no
infinito e na solidão.
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