segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Os sonhos e a chuva



O velho ainda traz consigo alguns sonhos da infância. Não aqueles de futuro e de fantasias que se sonha acordado com olhos abertos. Mas sim os de voar contra o céu cinzento ou então cair num abismo sem fim, incapaz de agarrar-se em paredes ou em galhos inexistentes. Há também nesses sonhos a presença inesperada de homens e mulheres que morreram e foram seus amigos.

O sono transforma-se numa vida paralela. Há também indecisões, transformações de desejos, algo distinto das coisas da realidade, como se o sonhado fosse em si mesmo a concretude da vida sem impedir a existência de sonhos dentro dos próprios sonhos. Chuvas insanas, deitadas sobre terrenos que permanecem secos em estranhos desertos a formar grandes lagos salgados.

As lembranças também se juntam nos grandes lagos da memória, pensamentos loucos, delírios insensatos. Aproxima-se a chuva que o vento transforma em temporal com a violência de antigos sentimentos esquecidos, quem sabe. E algo muito próximo da tristeza, passo a passo, transforma o desejo do pranto na contemplação de coisas infinitas.











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