O velho ainda traz consigo alguns sonhos da
infância. Não aqueles de futuro e de fantasias que se sonha acordado com olhos
abertos. Mas sim os de voar contra o céu cinzento ou então cair num abismo sem
fim, incapaz de agarrar-se em paredes ou em galhos inexistentes. Há também nesses
sonhos a presença inesperada de homens e mulheres que morreram e foram seus
amigos.
O sono transforma-se numa vida paralela. Há
também indecisões, transformações de desejos, algo distinto das coisas da realidade,
como se o sonhado fosse em si mesmo a concretude da vida sem impedir a
existência de sonhos dentro dos próprios sonhos. Chuvas insanas, deitadas sobre
terrenos que permanecem secos em estranhos desertos a formar grandes lagos
salgados.
As lembranças também se juntam nos grandes
lagos da memória, pensamentos loucos, delírios insensatos. Aproxima-se a chuva
que o vento transforma em temporal com a violência de antigos sentimentos
esquecidos, quem sabe. E algo muito próximo da tristeza, passo a passo,
transforma o desejo do pranto na contemplação de coisas infinitas.
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