A mulher miúda tem o passo apressado, balança os braços e o
corpo como se fosse uma boneca de molas. Usa um boné bem maior do que a
circunferência da cabeça e óculos estreitos que lhe dão uma aparência de
morcego. A outra que vem em seguida, muito branca, alta e magra, tem uma bolsa
a tiracolo, passadas largas e o olhar determinado.
Quando se caminha diariamente no calçadão, num mesmo
horário, acabamos por cruzar sempre com as mesmas pessoas. Somos capazes de
adivinhar quem vamos encontrar em seguida. O gordinho de peito nu quer faça
frio ou calor antecede a mulher de rosto contraido que corre com enorme
esforço. Ela luta contra o excesso de peso, que lhe avolumou os quadris e lhe deformou
a barriga.
Caminhantes e corredores solitários, alguns estão ali porque
o esforço físico proporciona uma certa euforia; outros, com carregada expressão
no rosto, fazem sacrifício supremo para compensar os anos de prazer que acabaram
por deixar pesadas lembranças.
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