domingo, 15 de julho de 2012

No calçadão


A mulher miúda tem o passo apressado, balança os braços e o corpo como se fosse uma boneca de molas. Usa um boné bem maior do que a circunferência da cabeça e óculos estreitos que lhe dão uma aparência de morcego. A outra que vem em seguida, muito branca, alta e magra, tem uma bolsa a tiracolo, passadas largas e o olhar determinado.

Quando se caminha diariamente no calçadão, num mesmo horário, acabamos por cruzar sempre com as mesmas pessoas. Somos capazes de adivinhar quem vamos encontrar em seguida. O gordinho de peito nu quer faça frio ou calor antecede a mulher de rosto contraido que corre com enorme esforço. Ela luta contra o excesso de peso, que lhe avolumou os quadris e lhe deformou a barriga.

Caminhantes e corredores solitários, alguns estão ali porque o esforço físico proporciona uma certa euforia; outros, com carregada expressão no rosto, fazem sacrifício supremo para compensar os anos de prazer que acabaram por deixar pesadas lembranças.

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