De olhos esbugalhados, o queixo prognata apontado para a
frente, atravessou o sinal fechado para pedestres com desprezo pelos
automóveis. Vestia seu terno branco, limpo, e ao invés do silencioso rádio que
sempre carrega junto ao ouvido, tinha
fones pendurados no pescoço, como uma exótica gravata.
Tinha pressa. Está sempre apressado. Faz uns dois meses que
eu não o via, imagino que devem tê-lo tirado de circulação para algum
tratamento. Eletrochoques, talvez. Costumam fazer isso com os que são
diferentes.
Ele passou por duas moças bonitas que iam em sentido
contrário e as olhou com o mesmo desprezo que tem pelos automóveis. Depois
cruzou comigo, debaixo da chuva. Não me prestou nenhuma atenção e correu para
espantar os pombos que fazem ponto na praça da estação do metrô.
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