segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Vana Verba


Nada se repete e quando o faz
o seu sentido
perde-se na bruma.

Haverá sempre uma palavra silente
sobre as coisas ditas,
uma palavra candente
sobre as coisas ditas,
sobre o silêncio repetido.

E nada é repetido. Nada é visto
nas savanas, nos horizontes longínquos,
nas planícies que enchem o pensamento
do homem, seu desejo e sua sina.

Somente a carga de sentidos
camuflados em sentidos,
em sensações perversas
castigadas pela sombra de vogais
que se erguem escondidas.

Estes disfarces refletidos
destacam sua própria semelhança
com segredos nunca revelados.
Repousam no som dos nossos gritos,
no ritmo louco, atropelado, engasgando palavras
e palavras nunca ditas, mudas como um chão de vidro.


quinta-feira, 27 de agosto de 2015

A luta


Liberdade, igualdade, fraternidade, idéia que foi desfraldada com a bandeira da Revolução Francesa, continua sendo o objetivo da luta eterna por uma sociedade mais justa. São temas permanentes nas revoluções em países do ocidente, levam multidões a se movimentarem nas ruas e têm também se transformado em lamento nas frustrações revolucionárias diante de campos conservadores.

Quando Napoleão colocou na própria cabeça a coroa de Imperador e quando revelados os crimes de Stalin, foram momentos simbólicos que marcaram o refluxo de lutas generosas. Elas haviam levantado a possibilidade de um mundo menos imperfeito e forjado mudanças dramáticas na História.


O tempo assiste à gestação de sonhos e depois a seus fracassos. Liberdade, igualdade e fraternidade têm sido a essência dos ideais por um mundo melhor. Diante das derrotas, a luta sempre recomeça na direção da utopia que o sonho humano acalenta.

domingo, 23 de agosto de 2015

Caos


Os que se sentem felizes acomodam-se na contemplação da própria felicidade. Para dela usufruir. Mas foi a angústia humana e seus conflitos que permitiram a conquista do pensamento, da arte e do conhecimento. Até onde foram possíveis. Os que são felizes contentam-se, os angustiados procuram, desesperadamente, mudar o mundo.

A vida é feita de inesperados, não existe um roteiro divino, transcendental, onde estão previstos o destino, seus percalços e seus incidentes. É assim também com a história do mundo que habita este planeta minúsculo, perdido na imensidão do universo infinito. Estariam, pois, enganados os que pensam que nada acontece por acaso.


O acaso fez com que surgisse a vida nesta esfera perdida. Bilhões de anos já se passaram e a lenta evolução do primata ainda não foi capaz de entender a idéia de algo que não tem fim. Nem começo. O caos prevalece como a explicação da origem e do fim de tudo o que está vivo e do que ainda viverá.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Uma paisagem


Ao amanhecer, uma brisa suave lembrava o sopro de coisas mortas, como se fosse uma lembrança antiga da vida que ali tinha existido. De tão leve, era incapaz de levantar a poeira finíssima que quase cobria os móveis e os objetos de uma casa que um dia fora ameaçada pela ventania. Depois, na calma que viera, nada se movia, apenas o pó suspenso pelo ar das frestas obscuras.

Nessas paragens quietas, insetos lembravam gotas d’água, viam-se nuvens construindo um céu de chumbo e a pouca luz montava uma moldura de retratos improváveis. A sombra esmaecia restos de luz sem brilho, breve claridade fria como o vento de um país gelado.


Lá, nessas paragens estranhas, uma criança crescia e olhava em sua volta, procurava ver alem desse horizonte de chumbo e descansava a cabeça numa pedra escurecida. Como se fosse apenas um reflexo, uma réstia dessa luz perdida que se pode encontrar em paredes desenhadas pelo tempo.

sábado, 15 de agosto de 2015

Evolução


Ao longo da evolução de sua espécie, a raça humana alimentou o mito de afastar-se de sua origem, a mesma de todos os animais da Terra. Imaginou-se como imagem e semelhança de Deus, aspirou à santidade e alimentou a idéia de justiça e liberdade,  na qual seria feliz. A luta pela superação significava ser livre das amarras da condição humana e do que ela possui de frágil, injusto, confuso, estúpido e violento.

A história do homem, no entanto, tem mostrado como se sucede de modo desigual e muitas vezes decepcionante. Convivem até hoje sociedades que conquistaram um grau mais avançado de civilização com outras que continuam na pré-história. E os massacres, genocídios, tortura e violência indiscriminada exibem suas imagens recorrentes no espelho da humanidade.


Os pessimistas vêem a civilização como um belo projeto imaginado na antiguidade clássica, a partir dos grandes filósofos gregos, que infelizmente não deu certo. O quadro de miséria humana espalhado pelo mapa do mundo de hoje, como sempre o foi em todas as épocas, exibe rancor, cobiça, ignorância e ódio construindo o medo da felicidade que o homem idealizou mas que no íntimo nunca desejou.